Entrevista com Claudia Coelho - Partner PWC

10/07/2023

Desafios da jornada da Sustentabilidade

1. O que é a sustentabilidade e o framework ESG?

A sustentabilidade, que representa a forma de gestão que endereça as questões ESG (environmental, social & governance), tem vindo a ganhar destaque na agenda das empresas, sendo já para muitas um dos vetores mais relevantes na definição da estratégia e no desenvolvimento das suas atividades – temas como as alterações climáticas, a transição energética, a economia circular, a gestão da cadeia de fornecedores, entre outros, têm cada vez mais impacto nas organizações e na sua capacidade de criar valor. 

Os critérios ESG consideram os três pilares de atuação como essenciais para a gestão sustentável, pelo que apesar de atualmente existir algum desequilíbrio, pois há uma preocupação acrescida com o pilar ambiental, nomeadamente com o tema das alterações climáticas, os temas de Governance e Sociais são cruciais, em particular no que se refere à gestão ao longo da cadeia de valor das empresas.

Esta é uma tendência relevante para todos os setores, de forma transversal, e para todas empresas, independentemente da sua dimensão, por vários motivos, incluindo a regulação e a pressão por stakeholders relevantes, como os investidores e setor financeiro, ou os clientes. 

2. Quais os grandes desafios da sustentabilidade?

As principais dificuldades e desafios que as empresas encontram ao endereçar o tema da sustentabilidade estão relacionadas com a implementação dos novos requisitos legais, que implicam uma compreensão do seu desempenho e dos desafios e oportunidades associadas ao tema, para que são necessários conhecimentos e competências, acesso à informação, ferramentas de monitorização, entre outros aspetos chave. 

As empresas devem começar por compreender muito bem quais são os riscos e as oportunidades associadas a sustentabilidade e depois precisam ter capacidade e acesso à informação que lhes permita compreender o seu estado de maturidade e definir de que forma poderão criar valor a partir da sustentabilidade, que é o objetivo da estratégia de ESG. 

O reporting, enquanto peça chave de comunicação, é também a peça chave para efeitos de resposta a requisitos legais e por isso um dos principais desafios, para o que a entidade terá de conseguir monitorizar, comunicar e submeter a verificação o seu desempenho, em alinhamento com a Diretiva CSRS e com as guidelines europeias ESRS (European Sustainability Reporting Standards). Este requisito legal, no caso de entidades que não têm ainda obrigações de reporting, será aplicável no relatório de 2025, a publicar em 2026, pelo que as entidades devem iniciar desde já o processo de avaliação da situação atual e desenho de um roadmap que lhes permita responder aos requisitos que lhes serão aplicáveis, incluindo o de auditoria da informação reportada. 

3. Quais as diretivas que exigirão das empresas do nosso setor um maior esforço de adaptação?

As principais dificuldades estão relacionadas com as obrigações decorrentes das Diretivas de Reporte Corporativo de Sustentabilidade (Diretiva CSRD), com o Regulamento da Taxonomia e com a proposta de Diretiva de Due Diligence de Direitos Humanos e Ambiente na cadeia de valor. Estas diretivas implicam requisitos de reporte ambiciosos, que vão para além da monitorização do desempenho, incluindo a análise de riscos, a definição de metas em áreas como o carbono e a gestão do impacto ambiental e social ao longo da cadeia de valor.

A Diretiva CSRD, juntamente com o Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR) e com o Regulamento da Taxonomia, constituem as componentes centrais dos requisitos do novo framework de reporting de sustentabilidade, que visam apoiar a estratégia de financiamento sustentável da União Europeia (UE) e promover uma maior informação sobre o posicionamento e performance das empresas neste tema. 

4. Quais os principais riscos que as empresas e os países enfrentam?

Questões como as alterações climáticas e a transição energética, a economia circular, a escassez de recursos hídricos, o controlo das cadeias de fornecedores, são hoje em dia relevantes para praticamente todos os setores e atividades desenvolvidas por cada entidade. 

Nesse sentido, é essencial que as empresas efetuem uma análise de riscos e oportunidades ESG, que avalie os impactos económicos, ambientais e sociais das suas atividades, integrando estes aspetos nas suas estratégias de desenvolvimento. 

Para além das questões de posicionamento no mercado, reputação, eco-eficiência, etc, há cada vez mais que ter em consideração os temas relacionados com o acesso a financiamento, já que que cada vez mais, a capacidade de demonstrar em que medida são implementadas boas práticas de sustentabilidade será um fator decisivo no acesso e condições de financiamento.

5. Qual a importância de o setor estar a apresentar uma orientação para a sustentabilidade?

A sociedade em geral, consumidores e clientes, empresas, financiadores, etc, estão cada vez mais sensíveis aos temas relacionados com ESG, sustentabilidade e alterações climáticas, pelo que as empresas procuram cada vez mais assumir externamente posicionamentos de referência nesta matéria, com o objetivo de demonstrar que as suas atividades e serviços estão em linha com os objetivos ambientais e sociais e que as atividades são desenvolvidas tendo em atenção os temas ESG. 

Neste sentido e sendo o tema relevante para todos e dependente da ação de todos, o Pacto representa um compromisso do setor, o reconhecimento da relevância deste tema e de que cada setor, empresa e indivíduo tem uma contribuição a dar. 

A partilha dos compromissos assumidos no Pacto é uma medida que irá contribuir para uma maior transparência e informação ao público em geral sobre os planos de setor e as ações a desenvolver para termos centros comerciais cada vez mais sustentáveis e com abordagens abrangentes ao ESG. Será também um exemplo para outras entidades e setores, servindo de inspiração. 

6. Quais os desafios que Portugal enfrenta no que diz respeito ao ambiente e de que maneira podem os centros comerciais e locais de retalho organizado contribuir?

Portugal definiu o Roteiro Nacional para a Neutralidade Carbónica, objetivo a alcançar até 2050, que inclui metas ambiciosas de reduções significativas das emissões totais nacionais (65% - 75% para 2040 e 85%.- 90% para 2050, face a 2005), incluindo também metas associadas a cada setor de atividade. No caso dos edifícios, que representam uma parte significativa do total de emissões acionais, as metas de redução são de cerca de 48% para 2030, 73% para 2040 e 85% para 2050 – metas que só se atingem com uma transformação energética. 

Para além do contributo direto que os centros comerciais e locais de retalho organizado podem dar, por via da redução das emissões associadas aos seus edifícios, têm um papel muito importante com potencial de impacto relevante, ainda que indireto, associado à capacidade de sensibilização e informação a stakeholders, incluindo a comunicação com os milhões de visitantes, com os lojistas, com os fornecedores, etc. Face ao potencial de impacto, esta deve ser uma área de atuação considerada por todos os gestores de centros comerciais e locais de retalho organizado. 

Garantir que temos consumidores informados, com conhecimento suficiente para tomar decisões de qualidade, que compreendem o impacto das suas escolhas e que têm capacidade para identificar alegações verdes gerais do tipo greenwashing é essencial neste processo de transição para uma economia mais sustentável!

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