ENTREVISTA RAFAEL ALVES ROCHA - DIRETOR GERAL DA CIP

11/02/2025

Rafael Alves Rocha - Diretor Geral da CIP

"A boa recuperação do mercado dos Centros Comerciais, depois do impacto da pandemia, está a impulsionar novamente este setor como um dos mais dinâmicos da economia portuguesa."

A estimativa rápida do INE aponta para um crescimento de 1,9% da economia nacional em 2024, um valor muito próximo do que já indicava o Barómetro de Conjuntura Económica CIP/ISEG, que era na ordem dos 1,8%. Qual é o peso do setor do retalho organizado nestes resultados?

O facto do crescimento registado em 2024 ter sido impulsionado pela aceleração do consumo privado, bem como o aumento das vendas no comércio a retalho de 1,1% em 2023 para 3,3% em 2024 apontam para que o contributo do setor do retalho tenha sido significativo. Pese embora não estejam ainda disponíveis dados que permitam quantificar o contributo dos diferentes setores para este resultado.

O consumo privado, principalmente no 4º trimestre, deu um importante contributo para esse desempenho da economia. Poderemos esperar a continuidade da trajetória de crescimento, este ano, ou é arriscado fazer projeções?

O crescimento económico no final do ano de 2024, acima das expectativas, terá sido impulsionado por diversos fatores de natureza pontual. Entre estes fatores estão as novas tabelas de retenção na fonte de IRS, que permitiram um forte aumento do rendimento disponível dos particulares, com reflexos no consumo. O INE refere também o contributo positivo de uma redução em cadeia das importações, que deve ser visto em conjugação com o contributo em sentido inverso da variação de existências. Acrescem ainda, na envolvente externa, sérias ameaças de natureza económica, política e geopolítica. Tudo isto torna as projeções de crescimento para 2025 particularmente arriscadas.

Os riscos externos, seja de natureza económica ou geopolítica, aconselham alguma prudência nas previsões?

Sem dúvida. Os riscos externos que se acumulam no horizonte contribuem para uma grande incerteza. Não só os riscos associados às tensões geopolíticas, mas também os decorrentes da situação política em vários países europeus e de um maior protecionismo envolvendo as maiores economias mundiais.

A incerteza política é particularmente preocupante porque afeta as duas maiores economias europeias – França e Alemanha – ameaçando reverter a prometida aceleração da procura externa dirigida às empresas portuguesas.

Quanto aos riscos que afetam o comércio internacional, mesmo que a Europa não venha a ser diretamente visada por um aumento de tarifas dos Estados Unidos (as últimas notícias a propósito do aço e do alumínio são inquietantes) não estamos a salvo do impacto de uma escalada protecionista e, consequentemente, de um agravamento da fragmentação da economia mundial e dos efeitos de eventuais desvios de fluxos comerciais para os mercados europeus.

Quais são os principais desafios que se colocam ao setor empresarial, nomeadamente, à competitividade e ao crescimento das empresas?

O grande desafio à competitividade e ao crescimento das empresas está no aumento da produtividade. Somente com empresas mais produtivas será possível vencer com sucesso as exigências da dupla transição digital e ecológica, competir nos mercados externos, crescer mais, com melhores empregos, com salários mais elevados. A produtividade das empresas passa pelo capital humano, que é o seu principal ativo. Daí que a atração e retenção de talento esteja entre as principais preocupações das empresas. O aumento da produtividade exige também mais investimento e melhor investimento, nomeadamente investimento que traga inovação tecnológica nos produtos, nos processos, nos serviços.

Os centros comerciais têm dado um forte contributo para a economia portuguesa, sendo que 2024 foi o melhor ano de sempre em vendas nas lojas destes espaços. Que papel assumem na atração de investimento e na criação de emprego?

A boa recuperação do mercado dos centros comerciais, depois do impacto da pandemia, está a impulsionar novamente este setor como um dos mais dinâmicos da economia portuguesa. De resto, um estudo publicado em 2024 conclui que a conjugação da melhoria da performance com o aumento das yields tem levado a um interesse crescente por parte de vários investidores. Prova disso são os 14 novos centros comerciais em pipeline (quatro dos quais estavam já em construção) e quatro expansões. Quanto ao contributo para o emprego, o estudo quantifica-o em cerca de 368 000 postos de trabalho, incluindo o emprego indireto e induzido pelo setor, o que corresponde a 7% do total do emprego em Portugal.

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